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Preservação da Amazônia fala mais alto em plebiscito sobre petróleo

Consultada, população decide votar pela suspensão da exploração de jazida no coração da Região Amazônica equatoriana. Especialistas apontam prejuízos estratosféricos


Jazida de petróleo na Amazônia equatoriana representa, hoje, 11% da produção atual do país. Suspensão de atividade gera desempregos e queda na receita



Da redação – O Equador ocupou os holofotes do mundo pela extrema violência durante a campanha eleitoral, que aconteceu recentemente. Dois líderes políticos foram assassinados.

E outro fato que também chamou a atenção foi o plebiscito histórico, quando a população do país vizinho decidiu votar pela interrupção da exploração de petróleo de uma de suas maiores jazidas, localizada no Parque Nacional Yasuní, considerado o coração da Amazônia equatoriana e um dos epicentros mundiais de biodiversidade. 

A consulta ao povo sobre o tema foi no domingo (20). Com mais de 93% dos votos apurados, segundo uma atualização divulgada ontem, 21, 58,99% dos equatorianos votaram “Sim” para cessar as operações do Bloco 43-ITT, em comparação com 41,01% que votaram “Não” para interromper a atividade da jazida operada pela empresa estatal Petroecuador. 

De acordo com a decisão do Tribunal Constitucional que deu sinal verde ao plebiscito, o Estado tem um ano para desmantelar as instalações, um prazo que, segundo a Petroecuador, é materialmente impossível devido aos trabalhos e protocolos que devem ser aplicados para fechar poços e desmontar estruturas.

O resultado constitui um triunfo estrondoso para Yasunidos, o grupo ambiental que promoveu a consulta nacional com o objetivo declarado de proteger Yasuní, uma área extremamente sensível a qualquer derramamento de óleo, e também para os povos indígenas em isolamento voluntário que vivem no parque nacional. 

É também uma vitória do movimento indígena, que havia se manifestado principalmente a favor do “Sim”, especialmente dos indígenas Waorani, a maior etnia que habita o Yasuní, uma área natural protegida de um milhão de hectares. 

Dentro da reserva natural são encontradas mais de 2 mil espécies de árvores e arbustos, 204 de mamíferos, 610 de aves, 121 de répteis, 150 de anfíbios e mais de 250 de peixes, e é também o lar dos tagaero, taromenane e dugakaeri, povos indígenas em isolamento voluntário. 

Cenário de muitas incertezas

Com esse resultado, abre-se um período de incertezas para o país, que terá de prescindir de um campo onde são produzidos diariamente 55 mil barris de petróleo, o que equivale a 11% da produção nacional de petróleo bruto, um dos grandes pilares da economia equatoriana. 

Segundo cálculos do governo equatoriano, a cessação das operações no Bloco 43-ITT vai causar ao Estado um prejuízo de US$ 1,2 bilhão (R$ 5,98 bilhões) por ano em lucros da venda de petróleo bruto, que em um período de 20 anos poderá ascender a US$ 13,8 bilhões (R$ 68,74 bilhões). 

As estimativas do Executivo contemplam ainda um custo de US$ 500 milhões para desmantelar instalações cuja construção custou cerca de US$ 2 bilhões. 

No entanto, os grupos ambientalistas afirmam que o impacto econômico será muito menor e que a exploração de um petróleo pesado como o de Yasuní pode deixar de ser rentável em alguns anos com a queda do preço do petróleo, de forma que acreditam que essas receitas poderiam ser compensadas por um imposto sobre a riqueza.

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