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Lideranças indígenas culpam governo por crise Yanomami

Corrupção sistêmica dificulta a vida de milhares de índios, que vivem inclusive situações análogas à escravidão, segundo subprocuradora-geral do trabalho


Indígena da etnia Pankararu, Edelmare Barbosa disse que o governo federal não consegue controlar violência contra o povo Yanomami



Da redação – Os povos originários da Amazônia estão, hoje, mais conscientes de seus direitos. O tema sempre está na pauta das discussões quando envolvem principalmente demarcações de terras.

Agora, o assunto volta aos holofotes com uma declaração bombástica de Edelamare Barbosa Melo, subprocuradora-geral do Ministério Público do Trabalho.

Segundo ela, a crise no território Yanomami foi agravada pela “corrupção sistêmica” que envolve o Estado Brasileiro e a exploração ilegal da terra tradicional.

Indígena da etnia Pankararu, Edelamare foi uma das palestrantes do seminário ‘A visão das entidades na questão Yanomami’, realizado na quinta-feira (24) no Tribunal Regional do Trabalho da 11ª Região, em Manaus.

Na questão Yanomami, houve uma corrupção sistêmica, uma condescendência entre Estado e as estruturas que se estabeleceram naquele território para retirar da terra aquilo que para eles têm valor, mas que para a gente significa maldição por tudo o que traz

Edelamare Barbosa Melo, subprocuradora-geral do Ministério Público do Trabalho e indígena da etnia Pankararu

De acordo com a subsecretária, , o MPT está presente com a Organização Internacional do Trabalho  em oito aldeias na TI Yanomami e integra o Comitê Operacional de Emergência Yanomami, criado pelo governo federal no início deste ano para lidar com a crise no território. 

Escravidão de indígenas

Durante a palestra, Edelamare também sustentou que a invasão de territórios tradicionais por empresas que buscam explorar o meio ambiente coloca os indígenas em situações análogas à escravidão.

Ela questionou mais ainda a política governamental.

Quando uma empresa invade um território onde eu e minha comunidade estamos trabalhando (em roças e outras atividades) para manter a minha coletividade e lá ela degrada meu espaço de trabalho, estupra minhas crianças, minhas mulheres, faz assédio para eu praticar atividades ilícitas, limita a minha liberdade de ir e vir, limita meu acesso à alimentação, polui a água que bebo e planto, não estou criando uma condição de vida análoga ao escravo? Não posso submeter uma comunidade a essa questão?

Edelamare Barbosa Melo

A subprocuradora disse ser necessário deixar para trás o conceito tradicional de trabalho escravo para incluir essa realidade. “Aqui também tem assédio, violação de direitos humanos e fundamentais, e no mundo do trabalho”, pontuou.

O seminário sobre os Yanomami integra a 6ª Reunião Ordinária do Colégio de Presidentes e Corregedores da Justiça do Trabalho, que acontece em Manaus no mesmo período. Participaram do evento presidentes dos 24 Tribunais Regionais do Trabalho do Brasil, incluindo o desembargador Audaliphal Hildebrando da Silva, que preside o TRT11 (Amazonas e Roraima).

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