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Em dez anos, Amazônia perdeu o equivalente a 52 milhões de florestas

Comunidade internacional pressiona Brasil, mas órgãos de controle mostram ainda fragilidade para frear desmatamentos. Pecuária avança consideravelmente


Avanço do arco agropecuário culmina em grandes devastações de florestas no Brasil, principalmente na Região Amazônica, segundo levantamento



Apesar da pressão internacional por mais defesa da rica biodiversidade amazônica, os órgãos de controle governamentais ainda não controlam devidamente a situação no Brasil. Só na última década, a Amazônia perdeu 52 milhões de hectares de floresta, segundo o levantamento do MapBiomas, divulgado ontem. 

A área, que equivale a toda região da França, foi convertida para uso humano e para a agropecuária entre os anos de 1985 a 2022. O fato é contraditório, uma vez que a pesquisa observou que o tamanho do bioma diminuiu com mais expressão depois da aprovação do Código Florestal Brasileiro.

Mesmo com a obrigatoriedade do Código em se preservar permanentemente áreas sensíveis e de criar a reserva legal para manter uma parcela da vegetação nativa em propriedades rurais, a perda de vegetação nativa se intensificou em todos os biomas.

Antes da aprovação do Código, entre 2008 a 2012, a perda de vegetação nativa nos biomas era de 5,8 milhões de hectares. Nos cinco anos seguintes à aprovação do código, a perda aumentou para 8 milhões. E já nos últimos 5 anos, de 2018 a 2022, alcançou 12,8 milhões de hectares. O que significa um aumento de 120% em relação aos primeiros dados coletados de 2008 a 2012.

Em relação as áreas de todos os biomas brasileiros, a perda na década foi de 96 milhões de hectares de vegetação nativa, o que equivale a 2,5 vezes de todo o território alemão. A Amazônia e o Cerrado foram os mais impactados.

O maior motivo detectado para tamanho desmate é o uso da terra para atividades agropecuárias. Em todo o País, a área ocupada pelo setor está em um terço do território nacional. As pastagens significam 61,4 milhões de hectares na década investigada, e a agricultura, sobre 41,9 milhões.

Na Amazônia, a área ocupada pelo agro saltou de 3% para 16%. O Pampa e o Cerrado foram os mais atingidos, com aumento de 15% e 16% respectivamente. Atualmente, no Cerrado, as atividades agropecuárias ocupam metade do bioma.

Marcos Rosa

Coordenador técnico do MapBiomas

O Pantanal e o Pampa são exemplos de biomas naturalmente aptos para a pecuária, pois seus campos são como pastagens naturais. Nos dois casos, o avanço da soja representa uma degradação do bioma


Campeões de desmatamento

Os Estados com maior proporção do território ocupado com agricultura são o Paraná, com 39%, e o Rio Grande do Sul, com 36%. Já o Sergipe e Alagoas são os que têm maior proporção de pastagem no território, 62% e 52% respectivamente.

O único Estado que manteve a área de vegetação nativa foi São Paulo, e o Rio de Janeiro contou com aumento de 1% na vegetação nativa.

As terras indígenas representam 19% de toda vegetação nativa do país e é responsável pela maior taxa de preservação. As imagens via satélite mostraram que apenas 1% da área de mata que fica em reserva indígena foi desmatada.

A população que convive com intensos conflitos com o setor agrário e com a grilagem de terras, enfrentam nos últimos meses, o julgamento sobre o Marco Temporal que pode incidir diretamente sobre a permanência ou saída de parte dos indígenas em seus territórios.

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